No ataque uso pontas "pé para dentro" ou "pontas pé para fora"?
- Treinador Vinicius Munhoz
- 21 de mar. de 2023
- 3 min de leitura

Antes de aprofundar o tema dos pontas, gostaria de compartilhar com vocês um fato curioso que aconteceu comigo a alguns anos.
Eu ainda era um preparador físico no início da carreira e este fato foi marcante por envolver uma escolha. Naquele momento, ainda não tinha a noção do quanto seria importante aquela experiência para minha futura carreira como treinador.
Estavamos em competição. Era o último jogo da fase classificatória e haviamos perdido um zagueiro por lesão e outro pelo 3º cartão amarelo na ultima rodada da 1ª fase. O regulamento previa que se o atleta levasse o 3º cartão amarelo nesta partida deveria cumprir suspensão no primeiro jogo da fase seguinte da competição, o mata mata. No elenco, contávamos com 4 zagueiros, sendo 2 destros e 2 canhotos. Ambos os defensores que haviamos perdido eram destros, ou seja, como opção tínhamos apenas os de perna esquerda para a escolha.
No dia a dia, ao longo da semana, o treinador quis ouvir a comissão para então tomar a sua decisão. Para os auxiliares, foi quase unanimidade que deveriam jogar os 2 canhotos sob a justificativa de que eram atletas da posição, pois o curto espaço de tempo até o jogo não permitiria adaptar um atleta destro ali. Após ouvir atentamente as opiniões e justificativas dos pares fui surpreendido pela manifestação do treinador: "Mas se eu for com vocês e usar os 2 esquerdos vou deixar o time torto". Diante deste relato quero provocar uma reflexão tendo como ponto de partida a seguinte questão: Pode o treinador "entortar" uma equipe a partir de suas escolhas?
Contada a história, entramos diretamente no tema do texto: Afinal, ao atacar devo usar pontas "pé para dentro" ou "pé para fora"? Em relação as vantagens que podemos ter ao jogar com os pontas "pé para dentro", destaco 3 em especial:
Potencializar a finalização - ao trazer a bola para dentro o ponta tem facilitada a condição de finalização.
Assistência - ao trazer a bola para dentro facilito o passe para movimentos de ruptura(facão) dos seus companheiros.
Passe para trás - quando próximo a área, e temos a linha defensiva adversária correndo na direção do próprio gol, crio condições de passe para trás a fim de dar vantagem aos meias para finalizar a gol.
Já em relação as vantagens que os pontas "pé para fora" oferecem, também destaco 3 em especial:
Correr costas - uma vez o adversário utilize sua linha de defesa alta ter o "pé para fora" pode indicar vantagens ao receber a bola nas costas da mesma, onde a principal é a orientação do domínio para frente criando vantagem para a finalização ou assistência.
Cruzamentos - ao receber a bola no "pé para fora" crio condições para cruzamentos nas costas da linha de defesa do adversário(a chamada bola rápida).
Jogo de tabela - possibilidade de ao escolher combinações(tabela), receber a bola em vantagem de movimento para finalização ou cruzamento.
Em tempo e a fim de facilitar a compreensão, considerei a idéia dos pontas receberem passes somente em amplitude. Portanto, os passes entre linhas foram desconsiderados.
Mas afinal, uso "pé para dentro" ou "pé para fora" com os pontas? A resposta é depende!
Depende de como penso a equipe nas ações ofensivas.
Na análise do adversário ao se defender, qual "pé" traz o melhor benefício.
Da adaptação dos pontas nos treinos com o "pé para dentro" e "pé para fora".
Se o atleta reúne ou não condições para realizar a variação.
Da altura da linha defensiva.
Como vocês devem ter percebido, não há uma resposta precisa. Há uma escolha!! Uma convicção que varia de treinador para treinador. Um produto das circunstâncias e do momento. Não há regra. Minha sugestão é que o treinador esteja atento aos sinais, entender bem as vantagens e desvantagens do uso, usar a sensibilidade e então decidir.
Sobre a questão: Pode o treinador "entortar" uma equipe a partir de suas escolhas? sugerida pelo texto. A resposta é sim!!! Quando não temos clareza do que queremos com nossas escolhas e principalmente precisão ao comunicar e praticar nossa intenção a consequência é "entortar". Por isso, mais importante do que a escolha do "pé" são os motivos. Se faz sentido ou não. Atleta algum irá se comprometer quando não fizer sentido. Então, trate de criar condições para que suas escolhas façam sentido.
E para aqueles que ficaram curiosos sobre o final da história narrada no início do texto. A escolha do treinador foi por jogar com os 2 zagueiros canhotos. Acabamos por vencer o jogo e levamos uma vantagem importante para o jogo seguinte e a mim a seguinte lição: Não há certo ou errado, há escolhas. Quando as que fazem sentido são superiores, sucesso garantido!!
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